FUTUROS AMORES

Um blog sobre amor, arte e acaso.

30 de jun. de 2010

Enquanto isso, na sala de aula...

Postado por Priscila |

Então crianças, hoje será a apresentação do trabalho sobre os antecedentes da Revolução Francesa. Qual será o primeiro grupo a fazer a encenação?

- O nosso "fessora"!
- Então tá ótimo!
- Pera, pera!Um integrante acabou de desistir! Não vai rolar, fessora!
- Gente, vamos! Tem como improvisar sem ele?
- Até tem...
- Então, vamos para não atrasar!

(10 minutos depois)

[clap, clap, clap. Aplausos]

- "fessora", não saiu como a gente queria... Ficou faltando coisas...
- Tudo bem meninos. Tirando alguns erros conceituais, a performance foi boa. Sentem-se

[POW!]
[BUÁÁÁÁÁ]

-Mais o que foi isso???
- Fessora, ele me deu um soco!
- Por que você deu um soco nele?
- Por que além de sair do grupo e prejudicar a gente, ele ainda ficou rindo!
- Pra coordenação os dois!


***

Moral da história: Se nos antecedentes da Revolução Francesa já estão assim, imagine quando começarmos a falar da Era do Terror??? #eutenhomedo!

29 de jun. de 2010

Eu tempo.

Postado por Priscila |

[Ekaterina Moré, Alone]


Eu sou o tempo. Não tenho dúvidas. Só quando morrer o tempo para, o mundo acaba.
Enquanto isso, sou eternidade.

A bruxa FIFA e a maldição da copa

Postado por Priscila |


Era uma vez, um país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza. Todos nesse país estavam felizes e contentes até que apareceu uma bruxa malvada chamada FIFA e criou a maldição da copa do mundo. Pobres coitados! Milhares de pessoas ficaram estáticas como pedras por conta dos jogos! Além disso, a maldição da copa fez desaparecer as sextas-feiras do calendário! E não só ela! Mas as segundas, terças, quartas... Quando acabará essa maldição que se repete de 4 em 4 anos?

***

É bom não ter que trabalhar no dia do jogo, mas em compensação é uma droga quando você precisa resolver problemas e está tudo paralisado!

28 de jun. de 2010

É o que me interessa!

Postado por Priscila |

"Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem.

Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa."

27 de jun. de 2010

A Mensagem

Postado por Priscila |

[Marc Chagall, Green landscape]


A princípio, quando a moça disse que sentia angústia, o rapaz se surpreendeu tanto que corou e mudou rapidamente de assunto para disfarçar o aceleramento do coração. Mas há muito tempo – desde que era jovem – ele passara afoitamente do simplismo infantil de falar dos acontecimentos em termos de “coincidência”. Ou melhor – evoluindo muito e não acreditando nunca mais – ele considerava a expressão “coincidência” um novo truque de palavras e um renovado ludíbrio.

Assim, engolida emocionadamente a alegria involuntária que a verdadeiramente espantosa coincidência dela também sentir angústia lhe provocara – ele se viu falando com ela na sua própria angústia, e logo com uma moça! ele que de coração de mulher só recebera o beijo de mãe. Viu-se conversando com ela, escondendo com secura o maravilhamento de enfim poder falar sobre coisas que realmente importavam; e logo com uma moça! Conversavam também sobre livros, mal podiam esconder a urgência que tinham de pôr em dia tudo em que nunca antes haviam falado.

Mesmo assim, jamais certas palavras eram pronunciadas entre ambos. Dessa vez não porque a expressão fosse mais uma armadilha de que os outros dispõem para enganar os moços. Mas por vergonha. Porque nem tudo ele teria coragem de dizer, mesmo que ela, por sentir angústia, fosse pessoa de confiança. Nem em missão ele falaria jamais, embora essa expressão tão perfeita, que ele por assim dizer criara, lhe ardesse na boca, ansiosa por ser dita. Naturalmente, o fato dela também sofrer simplificara o modo de se tratar uma moça, conferindo-lhe um caráter masculino. Ele passou a tratá-la como camarada.

Ela mesma também passou a ostentar com modéstia aureolada a própria angústia, como um novo sexo. Híbridos – ainda sem terem escolhido um modo pessoal de andar, e sem terem ainda uma caligrafia definitiva, cada dia a copiarem os pontos de aula com letra diferente – híbridos eles se procuravam, mal disfarçando a gravidade. Uma vez ou outra, ele ainda sentia aquela incrédula aceitação da coincidência: ele, tão original, ter encontrado alguém que falava a sua língua! Aos poucos compactuaram. Bastava ela dizer, como numa senha, “passei ontem uma tarde ruim”, e ele sabia com austeridade que ela sofria como ele sofria. Havia tristeza, orgulho e audácia entre ambos.

Até que também a palavra angústia foi secando, mostrando como a linguagem falada mentia.(Eles queriam um dia escrever.) A palavra angústia passou a tomar aquele tom que os outros usavam, e passou a ser um motivo de leve hostilidade entre ambos. Quando ele sofria, achava uma gafe ela falar em angústia. “Eu já superei esta palavra”, ele sempre superava tudo antes dela, só depois é que a moça o alcançava. E aos poucos ela se cansou de ser aos olhos dele a única mulher angustiada. Apesar disso lhe conferir um caráter intelectual, ela também era alerta a essa espécie de equívocos. Pois ambos queriam, acima de tudo, ser autênticos. Ela, por exemplo, não queria erros nem mesmo a seu favor, queria a verdade, por pior que fosse. Aliás, às vezes tanto melhor se fosse “por pior que fosse”. Sobretudo a moça já começara a não sentir prazer em ser condecorada com o título de homem ao menor sinal que apresentava de... de ser uma pessoa. Ao mesmo tempo que isso a lisonjeava, ofendia um pouco: era como se ele se surpreendesse de ela ser capaz, exatamente por não julgá-la capaz. Embora, se ambos não tomassem cuidado, o fato dela ser mulher poderia de súbito vir à tona. Eles tomavam cuidado. Mas, naturalmente, havia a confusão, a falta de possibilidade de explicação, e isso significava tempo que ia passando. Meses mesmo. E apesar da hostilidade entre ambos se tornar gradativamente mais intensa, como mãos que estão perto e não se dão, eles não podiam se impedir de se procurar. E isso porque – se na boca dos outros chamá-los de “jovens” lhes era uma injúria – entre ambos “ser jovem” era o mútuo segredo, e a mesma desgraça irremediável. Eles não podiam deixar de se procurar porque, embora hostis – com o repúdio que seres de sexo diferente têm quando não se desejam –, embora hostis, eles acreditavam na sinceridade que cada um tinha, versus a grande mentira alheia. O coração ofendido de ambos não perdoava a mentira alheia. Eles eram sinceros. E, por não serem mesquinhos, passavam por cima do fato de terem muita facilidade para mentir – como se o que realmente importasse fosse apenas a sinceridade da imaginação. Assim continuaram a se procurar, vagamente orgulhosos de serem diferentes dos outros, tão diferentes a ponto de nem se amarem. Aqueles outros que nada faziam senão viver. Vagamente conscientes de que havia algo de falso em suas relações. Como se fossem homossexuais de sexo oposto, e impossibilitados de unir, em uma só, a desgraça de cada um. Eles apenas concordavam no único ponto que os unia: o erro que havia no mundo e a tácita certeza de que se eles não o salvassem seriam traidores. Quanto a amor, eles não se amavam, era claro. Ela até já lhe falara de uma paixão que tivera recentemente por um professor.

Ele chegara a lhe dizer – já que ela era como um homem para ele –, chegara mesmo a lhe dizer, com uma frieza que inesperadamente se quebrara em horrível bater de coração, que um rapaz é obrigado a resolver “certos problemas”, se quiser ter a cabeça livre para pensar. Ele tinha dezesseis anos, e ela, dezessete. Que ele, com severidade, resolvia de vez em quando certos problemas, nem seu pai sabia.

O fato é que, tendo uma vez se encontrado na parte secreta deles mesmos, resultara na tentação e na esperança de um dia chegar ao máximo. Que máximo? Que é, afinal, que eles queriam? Eles não sabiam, e usavam-se como quem se agarra em rochas menores até poder sozinho galgar a maior, a difícil e a impossível; usavam-se para se exercitarem na iniciação; usavam-se impacientes, ensaiando um com o outro o modo de bater asas para que enfim – cada um sozinho e liberto pudesse dar o grande vôo solitário que também significaria o adeus um do outro. Era isso? Eles se precisavam temporariamente, irritados pelo outro ser desastrado, um culpando o outro de não ter experiência. Falhavam em cada encontro, como se numa cama se desiludissem. O que é, afinal, que queriam? Queriam aprender. Aprender o quê? eram uns desastrados. Oh, eles não poderiam dizer que eram infelizes sem ter vergonha, porque sabiam que havia os que passam fome; eles comiam com fome e vergonha. Infelizes? Como? se na verdade tocavam, sem nenhum motivo, num tal ponto extremo de felicidade como se o mundo fosse sacudido e dessa árvore imensa caíssem mil frutos. Infelizes? se eram corpos com sangue como uma flor ao sol. Como? se estavam para sempre sobre as próprias pernas fracas, conturbados, livres, milagrosamente de pé, as pernas dela depiladas, as dele indecisas mas a terminarem em sapatos número 44. Como poderiam jamais ser infelizes seres assim?

Eles eram muito infelizes. Procuravam-se cansados, expectantes, forçando, uma continuação da compreensão inicial e casual que nunca se repetira – e sem nem ao menos se amarem. O ideal os sufocava, o tempo passava inútil, a urgência os chamava – eles não sabiam para o que caminhavam, e o caminho os chamava. Um pedia muito do outro, mas é que ambos tinham a mesma carência, e jamais procurariam um par mais velho que lhes ensinasse, porque não eram doidos de se entregarem sem mais nem menos ao mundo feito.

Um modo possível de ainda se salvarem seria o que eles nunca chamariam de poesia. Na verdade, o que seria poesia, essa palavra constrangedora? Seria encontrarem-se quando, por coincidência, caísse uma chuva repentina sobre a cidade? Ou talvez, enquanto tomavam um refresco, olharem ao mesmo tempo a cara de uma mulher passando na rua? ou mesmo encontraremse por coincidência na velha noite de lua e vento? Mas ambos haviam nascido com a palavra poesia já publicada com o maior despudor nos suplementos de domingo dos jornais. Poesia era a palavra dos mais velhos. E a desconfiança de ambos era enorme, como de bichos. Em quem o instinto avisa: que um dia serão caçados. Eles já tinham sido por demais enganados para poderem agora acreditar.

E, para caçá-los, teria sido preciso uma enorme cautela, muito faro e muita lábia, e um carinho ainda mais cauteloso – um carinho que não os ofendesse – para, pegando-os desprevenidos, poder capturá-los na rede. E, com mais cautela ainda para não despertá-los, levá-los astuciosamente para o mundo dos viciados, para o mundo já criado; pois esse era o papel dos adultos e dos espiões. De tão longamente ludibriados, vaidosos da própria amargura, tinham repugnância por palavras, sobretudo quando uma palavra – como poesia – era tão esperta que quase exprimia, e aí então é que mostrava mesmo como exprimia pouco. Ambos tinham, na verdade, repugnância pela maioria das palavras, o que estava longe de facilitar-lhes uma comunicação, já que eles ainda não haviam inventado palavras melhores: eles se desentendiam constantemente, obstinados rivais. Poesia? Oh, como eles a detestavam. Como se fosse sexo. Eles também achavam que os outros queriam caçá-los não para o sexo, mas para a normalidade. Eles eram medrosos, científicos, exaustos de experiência. Na palavra experiência, sim, eles falavam sem pudor e sem explicá-la: a expressão ia mesmo variando sempre de significado. Experiência às vezes também se confundia com mensagem. Eles usavam ambas as palavras sem aprofundar-lhes muito o sentido. Aliás, não aprofundavam nada, como se não houvesse tempo, como se existissem coisas demais sobre as quais trocar idéias. Não percebendo que não trocavam nenhuma idéia.

Bem, mas não era apenas isso, e nem com essa simplicidade. Não era apenas isso: nesse ínterim o tempo ia passando, confuso, vasto, entrecortado, e o coração do tempo era o sobressalto e havia aquele ódio contra o mundo que ninguém lhes diria que era amor desesperado e era piedade, e havia neles a cética sabedoria de velhos chineses, sabedoria que de repente podia se quebrar denunciando duas caras que se consternavam porque eles não sabiam como se sentar com naturalidade numa sorveteria: tudo então se quebrava, denunciando de repente dois impostores. O tempo ia passando, nenhuma idéia se trocava, e nunca, nunca eles se compreendiam com perfeição como na primeira vez em que ela dissera que sentia angústia e, por milagre, também ele dissera que sentia, e formara-se o pacto horrível. E nunca, nunca acontecia alguma coisa que enfim arrematasse a cegueira com que estendiam as mãos e que os tornasse prontos para o destino que impaciente os esperava, e os fizesse enfim dizer para sempre adeus.

Talvez estivessem tão prontos para se soltarem um do outro como uma gota de água quase a cair, e apenas esperassem algo que simbolizasse a plenitude da angústia para poderem se separar. Talvez, maduros como uma gota de água, tivessem provocado o acontecimento de que falarei.

O vago acontecimento em torno da casa velha só existiu porque eles estavam prontos para isso. Tratava-se apenas de uma casa velha e vazia. Mas eles tinham uma vida pobre e ansiosa como se nunca fossem envelhecer, como se nada jamais lhes fosse suceder – e então a casa tornou-se um acontecimento. Haviam voltado da última aula do período escolar. Tinham tomado o ônibus, saltado, e iam andando. Como sempre, andavam entre depressa e soltos, e de repente devagar, sem jamais acertar o passo, inquietos quanto à presença do outro. Era um dia ruim para ambos, véspera de férias. A última aula os deixava sem futuro e sem amarras, cada um desprezando o que na casa mútua de ambos as famílias lhes asseguravam como futuro e amor e incompreensão. Sem um dia seguinte e sem amarras, eles estavam pior que nunca, mudos, de olhos abertos.

Nessa tarde a moça estava de dentes cerrados, olhando tudo com rancor ou ardor, como se procurasse no vento, na poeira e na própria extrema pobreza de alma mais uma provocação para a cólera.

E o rapaz, naquela rua da qual eles nem sabiam o nome, o rapaz pouco tinha do homem da Criação. O dia estava pálido, e o menino mais pálido ainda, involuntariamente moço, ao vento, obrigado a viver. Estava porém suave e indeciso, como se qualquer dor só o tornasse ainda mais moço, ao contrário dela, que estava agressiva. Informes como eram, tudo lhes era possível, inclusive às vezes permutavam as qualidades: ela se tornava como um homem, e ele com uma doçura quase ignóbil de mulher. Várias vezes ele quase se despedira, mas, vago e vazio como estava, não saberia o que fazer quando voltasse para casa. como se o fim das aulas tivesse cortado o último elo. Continuara, pois, mudo atrás dela, seguindo-a com a docilidade do desamparo. Apenas um sétimo sentido de mínima escuta ao mundo o mantinha, ligando-o em obscura promessa ao dia seguinte. Não, os dois não eram propriamente neuróticos e – apesar do que eles pensavam um do outro vingativamente nos momentos de mal contida hostilidade – parece que a psicanálise não os resolveria totalmente. Ou talvez resolvesse. Era uma das ruas que desembocam diante do Cemitério S. João Batista, com poeira seca, pedras soltas e pretos parados à porta dos botequins.

Os dois andavam na calçada esburacada que mal os continha de tão estreita. Ela fez um movimento – ele pensou que ela ia atravessar a rua e deu um passo para segui-la – ela se voltou sem saber de que lado ele estava – ele recuou procurando-a. Naquele mínimo instante em que se buscaram inquietos, viraram-se ao mesmo tempo de costas para os ônibus – e ficaram de pé diante da casa, tendo ainda a procura no rosto.

Talvez tudo tivesse vindo de eles estarem com a procura no rosto. Ou talvez do fato da casa estar diretamente encostada à calçada e ficar tão “perto”. Eles mal tinham espaço para olhá-la, imprensados como estavam na calçada estreita, entre o movimento ameaçador dos ônibus e a imobilidade absolutamente serena da casa. Não, não era por bombardeio: mas era uma casa quebrada, como diria uma criança. Era grande, larga e alta como as casas ensobradadas do Rio antigo. Uma grande casa enraizada.

Com uma indagação muito maior do que a pergunta que tinham no rosto, eles se haviam voltado incautelosamente ao mesmo tempo, e a casa estava tão perto como se, saindo do nada, lhes fosse jogada aos olhos uma súbita parede. Atrás deles os ônibus, à frente a casa – não havia como não estar ali. Se recuassem seriam atingidos pelos ônibus, se avançassem esbarrariam na monstruosa casa. Tinham sido capturados.

A casa era alta, e perto, eles não podiam olhá-la sem ter que levantar infantilmente a cabeça, o que os tornou de súbito muito pequenos e transformou a casa em mansão. Era como se jamais alguma coisa estivesse estado tão perto deles. A casa devia ter tido uma cor. E qualquer que fosse a cor primitiva das janelas, estas eram agora apenas velhas e sólidas. Apequenados, eles abriram os olhos espantados: a casa era angustiada.

A casa era angústia e calma. Como palavra nenhuma o fora. Era uma construção que pesava no peito dos dois meninos. Um sobrado como quem leva a mão à garganta. Quem? quem a construíra, levantando aquela feiúra pedra por pedra, aquela catedral do medo solidificado?! Ou fora o tempo que se colara em paredes simples e lhes dera aquele ar de estrangulamento, aquele silêncio de enforcado tranqüilo? A casa era forte como um boxeur sem pescoço. E ter a cabeça diretamente ligada aos ombros era a angústia. Eles olharam a casa como crianças diante de uma escadaria.

Enfim ambos haviam inesperadamente alcançado a meta e estavam diante da esfinge. Boquiabertos, na extrema união do medo e do respeito e da palidez, diante daquela verdade. A nua angústia dera um pulo e colocara-se diante deles – nem ao menos familiar como a palavra que eles tinham se habituado a usar. Apenas uma casa grossa, tosca, sem pescoço, só aquela potência antiga. Eu sou enfim a própria coisa que vocês procuravam, disse a casa grande. E o mais engraçado é que não tenho segredo nenhum, disse também a grande casa.

A moça olhava adormecida. Quanto ao rapaz, seu sétimo sentido enganchara-se na parte mais interior da construção e ele sentia na ponta do fio um mínimo estremecimento de resposta. Mal se movia, com medo de espantar a própria atenção. A moça ancorara-se no espanto, com medo de sair deste para o terror de uma descoberta. Mal falassem, e a casa desabaria. O silêncio de ambos deixava o sobrado intacto. Mas, se antes eles tinham sido forçados a olhá-lo, agora, mesmo que lhes avisassem que o caminho estava livre para fugirem, ali ficariam, presos pelo fascínio e pelo horror.

Fixando aquela coisa erguida tão antes deles nascerem, aquela coisa secular e já esvaziada de sentido, aquela coisa vinda do passado. Mas e o futuro?! Oh Deus, dai-nos o nosso futuro! A casa sem olhos, com a potência de um cego. E se tinha olhos, eram redondos olhos vazios de estátua. Oh Deus, não nos deixeis ser filhos desse passado vazio, entregai-nos ao futuro. Eles queriam ser filhos. Mas não dessa endurecida carcaça fatal, eles não compreendiam o passado: oh livrai-nos do passado, deixai-nos cumprir o nosso duro dever. Pois não era a liberdade o que as duas crianças queriam, elas bem queriam ser convencidas e subjugadas e conduzidas mas teria que ser por alguma coisa mais poderosa que o grande poder que lhes batia no peito.

A moça desviou subitamente o rosto, tão infeliz que sou, tão infeliz que sempre fui, as aulas acabaram, tudo acabou! – porque na sua avidez ela era ingrata com uma infância que fora provavelmente alegre. A moça subitamente desviou o rosto com uma espécie de grunhido.

Quanto ao rapaz, ele rapidamente perdia pé na vaguidão como se fosse ficando sem um pensamento. Isso também era resultado da luz da tarde: era uma luz lívida e sem hora. O rosto do rapaz estava esverdeado e calmo, e ele agora não tinha nenhuma ajuda das palavras dos outros: exatamente como temerariamente aspirara um dia conseguir. Só que não contara com a miséria que havia em não poder exprimir.

Verdes e nauseados, eles não saberiam exprimir. A casa simbolizava alguma coisa que eles jamais poderiam alcançar, mesmo com toda uma vida de procura de expressão. Procurar a expressão, por uma vida inteira que fosse, seria em si um divertimento, amargo e perplexo, mas divertimento, e seria uma divergência que pouco a pouco os afastaria da perigosa verdade – e os salvaria. Logo eles que, na desesperada esperteza de sobreviver, já tinham inventado para eles mesmos um futuro: ambos iam ser escritores, e com uma determinação tão obstinada como se exprimir a alma a suprimisse enfim. E se não suprimisse, seria um modo de só saber que se mente na solidão do próprio coração.

Ao passo que com a casa do passado eles não poderiam brincar. Agora, tão menores que ela, parecia-lhes que tinham apenas brincado de ser moço e doloroso e de dar a mensagem. Agora, espantados, tinham finalmente o que haviam perigosa e imprudentemente pedido: eram dois jovens realmente perdidos. Como diriam as pessoas mais velhas, “eles estavam tendo o que bem mereciam”. E eram tão culpados como crianças culpadas, tão culpados como são inocentes os criminosos. Ah, se ainda pudessem apaziguar o mundo por eles exacerbado, assegurando-lhe: “estávamos apenas brincando! somos dois impostores!” Mas era tarde. “Rende-te sem condição e faze de ti uma parte de mim que sou o passado” – dizia-lhes a vida futura. E, por Deus, em nome de que poderia alguém exigir que tivessem esperança de que o futuro seria deles? quem?! mas quem se interessava em esclarecer-lhes o mistério, e sem mentir? havia por acaso alguém trabalhando nesse sentido? Dessa vez, emudecidos como estavam. nem lhes ocorreria acusar a sociedade.

A moça havia subitamente voltado o rosto com um grunhido, uma espécie de soluço ou tosse. “Meio que chorar nessa hora é bem de mulher”, pensou ele do fundo de sua perdição, sem saber o que queria dizer com “essa hora”. Mas esta foi a primeira solidez que ele encontrou para si mesmo. Agarrando-se a essa primeira tábua, pôde voltar cambaleante à tona, e como sempre antes da moça. Voltou antes dela, e viu uma casa de pé com um cartaz de “Aluga-se”. Ouviu o ônibus às suas costas, viu uma casa vazia, e ao seu lado a moça com um rosto doentio, procurando escondê-lo do homem já acordado: ela procurava por algum motivo ocultar a cara. Ainda vacilante, ele esperou com polidez que ela se recompusesse. Esperou vacilante, sim, mas homem. Magro e irremediavelmente moço, sim, mas homem. Um corpo de homem era a solidez que o recuperava sempre. Volta e meia, quando precisava muito, ele se tornava um homem. Então, com mão incerta, acendeu sem naturalidade um cigarro, como se ele fosse os outros, socorrendo-se dos gestos que a maçonaria dos homens lhe dava como apoio e caminho. E ela? Mas a moça saiu de tudo isso pintada com batom, com o ruge meio manchado, e enfeitada por um colar azul. Plumas que um momento antes haviam feito parte de uma situação e de um futuro, mas agora era como se ela não tivesse lavado o rosto antes de dormir e acordasse com as marcas impudicas de uma orgia anterior. Pois ela, volta e meia, era uma mulher. Com um cinismo reconfortante, o rapaz olhou-a curioso. E viu que ela não passava de uma moça. — Fico por aqui mesmo, disse-lhe então despedindo-se com altivez, ele que nem sequer tinha mais hora certa de voltar para casa e sentia no bolso a chave da porta. Despediram-se e eles, que nunca se apertavam as mãos porque seria convencional, apertaram-se as mãos, pois ela, na falta de jeito de em tão má hora ter seios e um colar, ela estendera desastradamente a sua. O contato das duas mãos úmidas se apalpando sem amor constrangeu o rapaz como uma operação vergonhosa, ele corou. E ela, com batom e ruge, procurou disfarçar a própria nudez enfeitada. Ela não era nada, e afastou-se como se mil olhos a seguissem; esquiva na sua humildade de ter uma condição.

Vendo-a afastar-se, ele a examinou incrédulo, com um interesse divertido: “será possível que mulher possa realmente saber o que é angústia?” E a dúvida fez com que ele se sentisse muito forte.

“Não, mulher servia mesmo era para outra coisa, isso não se podia negar.” E era de um amigo que ele precisava. Sim, de um amigo leal. Sentiu-se então limpo e franco, sem nada a esconder, leal como um homem. De qualquer tremor de terra, ele saía com um movimento livre para a frente, com a mesma orgulhosa inconseqüência que faz o cavalo relinchar. Enquanto ela saiu costeando a parede como uma intrusa, já quase mãe dos filhos que um dia teria, o corpo pressentindo a submissão, corpo sagrado e impuro a carregar. O rapaz olhou-a, espantado de ter sido ludibriado pela moça tanto tempo, e quase sorriu, quase sacudia as asas que acabavam de crescer. Sou homem, disse-lhe o sexo em obscura vitória. De cada luta ou repouso, ele saía mais homem, ser homem se alimentava mesmo daquele vento que agora arrastava poeira pelas ruas do Cemitério S. João Batista. O mesmo vento de poeira que fazia com que o outro ser, o fêmeo, se encolhesse ferido, como se nenhum agasalho fosse jamais proteger a sua nudez, esse vento das ruas.

O rapaz viu-a afastar-se, acompanhando-a com olhos pornográficos e curiosos que não pouparam nenhum detalhe humilde da moça. A moça que de súbito pôs-se a correr desesperadamente para não perder o ônibus...

Num sobressalto, fascinado, o rapaz viu-a correr como uma doida para não perder o ônibus, intrigado viu-a subir no ônibus como um macaco de saia curta. O falso cigarro caiu-lhe da mão...

Alguma coisa incômoda o desequilibrara. O que era? Um momento de grande desconfiança o tomava. Mas o que era?! Urgentemente, inquietantemente: o que era? Ele a vira correr toda ágil mesmo que o coração da moça, ele bem adivinhava, estivesse pálido. E vira-a, toda cheia de impotente amor pela humanidade, subir como um macaco no ônibus – e viu-a depois sentar-se

quieta e comportada, recompondo a blusa enquanto esperava que o ônibus andasse... Seria isso?

Mas o que poderia haver nisso que o enchia de desconfiada atenção? Talvez o fato dela ter corrido à toa, pois o ônibus ainda não ia partir, havia pois tempo... Ela nem precisava ter corrido... Mas o que havia nisso tudo que fazia com que ele erguesse as orelhas em escuta angustiada, numa surdez de quem jamais ouvirá a explicação?

Ele tinha acabado de nascer um homem. Mas, mal assumira o seu nascimento, e estava também assumindo aquele peso no peito; mal assumira a sua glória, e uma experiência insondável dava-lhe a primeira futura ruga. Ignorante, inquieto, mal assumira a masculinidade, e uma nova fome ávida nascia, uma coisa dolorosa como um homem que nunca chora. Estaria ele tendo o primeiro medo de que alguma coisa fosse impossível? A moça era um zero naquele ônibus parado, e no entanto, homem que agora ele era, o rapaz de súbito precisava se inclinar para aquele nada, para aquela moça. E nem ao menos inclinar-se de igual para igual, nem ao menos inclinar-se para conceder... Mas, atolado no seu reino de homem, ele precisava dela. Para quê? para lembrar-se de uma cláusula? para que ela ou outra qualquer não o deixasse ir longe demais e se perder? para que ele sentisse em sobressalto, como estava sentindo, que havia a possibilidade de erro? Ele precisava dela com fome para não esquecer que eram feitos da mesma carne, essa carne pobre da qual, ao subir no ônibus como um macaco, ela parecia ter feito um caminho fatal.

Que é! mas afinal que é que está me acontecendo? assustou-se ele. Nada. Nada, e que não se exagere, fora apenas um instante de fraqueza e vacilação, nada mais que isso, não havia perigo.

Apenas um instante de fraqueza e vacilação. Mas dentro desse sistema de duro juízo final, que não permite nem um segundo de incredulidade senão o ideal desaba, ele olhou estonteado a longa rua – e tudo agora estava estragado e seco como se ele tivesse a boca cheia de poeira. Agora e enfim sozinho, estava sem defesa à mercê da mentira pressurosa com que os outros tentavam ensiná-lo a ser um homem. Mas e a mensagem?! a mensagem esfarelada na poeira que o vento arrastava para as grades do esgoto. Mamãe, disse ele.


[ LISPECTOR, Clarice, A mensagem In:____, A Legião Estrangeira.São Paulo, Ática, 1977]

26 de jun. de 2010

Janela

Postado por Priscila |

[Edward Hopper, Eleven A.M.]


Ela tinha esquecido de como era a sensação de corar, de como era bom ser elogiada. Daquele dia em diante passou a desejar que o tal rapaz passasse todos os dias por sua janela.

Os búzios

Postado por Priscila |

"A espreita está um grande amor, mas guarda segredo.
Vazio tens o teu coração na ponta do medo.
Vê como os búzios caíram virados para o norte.
Pois eu vou mexer no destino, vou mudar-te a sorte"

[Os búzios, Ana Moura]

24 de jun. de 2010

Que puxa!

Postado por Priscila |

[Edward Hopper, Automat]

Por que ultimamente tenho vivido na base do plano B (C, D, E...)???

23 de jun. de 2010

Someday You'll find her, Charlie Brown!

Postado por Priscila |

"O seu problema, Charlie Brown, é que você se apaixona o tempo todo!"

[Parte 1]
www.youtube.com/v/u2FAKd3vHcg&hl=pt_BR&fs=1

[Parte 2]
http://www.youtube.com/v/CvLJrfrVuQg&hl=pt_BR&fs=1

[Parte 3]
http://www.youtube.com/v/8oczQ2jZNak&hl=pt_BR&fs=1

[Parte 4]
http://www.youtube.com/v/cjV_3PmaRaQ&hl=pt_BR&fs=1


"Charlie Brown: Por um breve momento achei que estava mesmo no jogo da vida. Mas apareceu uma pedra no caminho... Mas por que será que é sempre assim?Quando a gente pensa que está tudo perfeito, a vida dá um golpe na gente...
Linus: Sei o que quer dizer...Acho que todo mundo deveria usar capacete."

21 de jun. de 2010

Lucy Van Pelt

Postado por Priscila |

Veja e aprenda a NÃO ser como Lucy Van Pelt. rs

http://www.youtube.com/v/MhTR3k8-fDk&hl=pt_BR&fs=1

20 de jun. de 2010

Etiqueta

Postado por Priscila |

A autora deste blog elenca algumas regras de etiqueta que pretende seguir a partir de hoje [rs]

1- Eu lambo sim, e vou vivendo!
Nunca mais deixar de lamber o prato só pra parecer boa moça.





2- Nariz empinado, olhar altivo e F@#%-$& o mundo!
Não se deixe abalar por pouco!



3- Se te ignoram, não tema, não lamente.
Não se pode esperar muito de uma pessoa com espírito de avestruz!

19 de jun. de 2010

Ressaca emocional

Postado por Priscila |

Pior que beber e ficar de ressaca é NÃO beber e ficar de ressaca assim mesmo.


[Day after, Edvard Munch]




Parece que hoje é o dia oficial da ressaca emocional... Será que café e banho gelado resolve?


[Weeping Nude, Edvard Munch]

Indagações Iconográficas

Postado por Priscila |

Dúvidas cruéis atormentam a autora deste blog. Será que uma pseudo psiquiatra, uma guru naif e um gato de sorriso inconfundível seriam capazes de responder suas questões???



- Cara pseudo psiquiatra Lucy Van Pelt, por que quando eu estava para chutar a gol, tudo desandou?



Lucy: Olhe de outra maneira, nós aprendemos muito mais com as falhas do que com as vitórias.
Eu: Isso deveria me fazer sentir a pessoa mais esperta do mundo?
Lucy: Quer saber de uma coisa? Nem queira saber.




- Amélie, minha guru naif, por favor me diga: tenho alguma chance de encontrar o meu "nino quincampoix"?



Amélie Poulain: É difícil econtrar algo quando não se sabe se existe... Mas olhando bem o seu jogo... Vejo que está no meio de todos, mas ainda sim está fora...
Eu: Talvez por que seja diferente dos outros...
Amélie: ou não!



- Mestre, Ó mestre gato de Cheshire! Por que todos os gatos daqui desaparessem sem deixar nem o rastro do sorriso? O que devo fazer?




Mestre Gato de Cheshire: Isso depende de onde você quer chegar...
Eu: Quero chegar a um relacionamento sério!
Mestre Gato de Cheshire: Oh, acho que seria mais fácil chegar e sair do país das maravilhas, mas, se você quer mesmo saber, eu procuraria alguém tão louco quanto você...

#nanocontos

Postado por Priscila |

A arte de contar histórias em até 140 caracteres.

"Aquilo tudo era como um soluço: intermitente e sem paliativos. O jeito era respirar fundo e esperar passar".

"[Matemática deficitária] Resolva essa equação: Um sim e vários nãos. Não dá? Não deu! Resta algo? Comece de novo".

14 de jun. de 2010

6- GAME OVER.

Postado por Priscila |

[Ilustração: le fils de l'homme de René magrette à la pac-man]

[ <** ****],

C'est fini. Não sobrou nem os espaços do seu pseudônimo...

13 de jun. de 2010

5- "ceci n'est pas encore un rendez-vous".

Postado por Priscila |

[Ilustração: René Magritte, Les amants III]



Estou seguindo religiosamente os 6 passos para conquistar o bom rapaz. Aparentemente está dando certo. Mas [***** ****] é muito tímido. Fala pouco e de vez em quando tem um dry sense of humor. Confesso: não sei lidar com isso. Sou muito leve, tenho um "je n'est sais quoi Amélie Poulainesco"...

Se eu pudesse definir minhas últimas impressões sobre [***** ****], diria: fechado, apesar de fofo. Minha observação #2 seria: [***** ****] tem um círculo de amigos com quem interage, mas não quer ninguém muito próximo ao núcleo. Ele se sente bem em ser sozinho e me parece que isso tem um tom de liberdade... Liberdade que ele (aparentemente) não quer "dividir".

Tô cansada de tentar encontrar brechas em pessoas assim só para ter algum convívio. E, sinceramente, não vale a pena. Nem amizade vale, nesse caso. E sabe por quê? Porque não é isso o que eu quero. "Raspas e restos [NÃO] me interessam".

Apesar de tudo, ainda há uma pequena probabilidade: o próximo encontro. E se esses encontro não for "o encontro", acaba a ficção aqui.

12 de jun. de 2010

Amar é...

Postado por Priscila |

- ... Não sei! Esqueci!Faz tanto tempo... Putz, mas eu sabia essa... AH! Já sei! Seria um álbum de figurinhas de um casalzinho pelado?

12 de junho: aprenda com Cinderella.

Postado por Priscila |




O primeiro pensamento de Cinderella após a meia-noite:

- Será ele vai entender que aquele sapato #34 é meu? Putz! Acho que deveria ter anotado o meu telefone na palmilha!


Moral da história: mulher quando quer conquistar um homem inventa cada historinha... Vê Cinderella? Primeiro diz para o príncipe que não poderia ficar na festa porque a carruagem ia virar abóbora! Depois, esquece o sapato só para o cara ir atrás dela. Malandra essa guria! Conseguiu um partidão com direito a frase "e viveram felizes para sempre"...

11 de jun. de 2010

Drama à mexicana.

Postado por Priscila |



Sou muito Frida Kahlo!!! Podia ser menos (menos cor, menos contraste, menos intensidade), mas isso não seria eu. Seria anúncio de margarina.

10 de jun. de 2010

Para além da miséria humana.

Postado por Priscila |

"Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos."

"É inútil obter por piedade aquilo que desejamos por amor."

"Sede como os pássaros que, ao pousarem um instante sobre ramos muito leves, sentem-nos ceder, mas cantam! Eles sabem que possuem asas."

"A vida não passa de uma oportunidade de encontro; só depois da morte se dá a junção; os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace."

"O espírito enriquece-se com o que recebe; o coração com o que dá."

"Tudo o que está morto como fato, continua vivo como ensino."

Victor Hugo

Teddy Bear

Postado por Priscila |

Querido futuro namorado,

Por favor, não me dê ursinhos de pelúcia. Não sou tão melosa assim...

[Teddy Bear Coat - Design: Sebastian Errazuriz]





Além disso, sou alérgica.



[Saco de dormir - Design: Eiko Ishizawa]




Se você puder me dar uma boa dose de cafuné, eu prefiro.

8 de jun. de 2010

Para Charlie Brown. De Lucy Van Pelt.

Postado por Priscila |



Caro Charlie Brown,

Desde que Schroeder partiu para estudar novas peças de Beethoven na Alemanha passei meus dias aprimorando uma técnica de auto análise psiquiátrica...

E sabe, querido Charlie (será que você se incomoda se eu te chamar assim?), mudei um bocado. Não sou tão ranzinza e egocêntrica quanto dizem. Quer dizer, só um pouco.

Resolvi te escrever por quê... Por quê... Porque gostaria que você soubesse que aquele truque com a bola de futebol era apenas uma estratégia para chamar a sua atenção... É isso. Pronto. Falei. Só depois da auto análise cheguei a essa conclusão. Aliás, tenho tido uns sonhos estranhos... Uns sonhos em que me vejo casando com você.

Gostava do Schroeder porque ele era inalcançável. Muito diferente de você que sempre foi meio banana(desculpe, ainda não sou uma pessoa melhor de todo). O fato é que eu te provocava pra ver se você reagia, mas você nunca respondeu a altura dos meus desejos... E eu - idiota que era! - achava que o meu ponto de vista era tudo.

Nunca te disse isso, mas os seus suspiros me abalaram profundamente.

Charlie, gostaria de encontrar você. Sem truques com bolas ou cobrança de 5¢ para te ouvir... Hoje te ver seria o meu maior ganho.

Com carinho,
Lucylle Van Pelt, ou simplesmente, Lucy.

p.s. Charlie, perdoe se eu escrevi "auto análise" errado. Depois da reforma ortográfica, acho que não sei escrever mais nada!

7 de jun. de 2010

Pérolas...

Postado por Priscila |




Aluno já no espírito da copa:
"Canudos era uma comunidade onde os 'jogadores' se ajudavam(...)"

Aluno capitalista:
"A política do café-com-leite incentivava fábricas que produziam café-com-leite"


Moral da história: se você não sabe a matéria, seja pelo menos criativo! (Céus!)

Cafuné: todo mundo gosta, todo mundo quer!

Postado por Priscila |

6 de jun. de 2010

Um celular por 100g de Shitake.

Postado por Priscila |


|Triiim, Triiim|

(Voz masculina): Alô!

- Alô? Flor?

(Voz masculina): Não.

- Cadê a dona desse celular????

(Voz masculina): Não sei. Achei ele na rua.

- Mentira. Cadê a minha amiga? A dona do celular?

(Voz masculina): Você conhece a dona?

|Blim, blom|

|Tú, tú, tú|

- Flor! Que bom que você chegou? Liguei para o seu celular e atendeu um homem!

- Acabei de ser assaltada.

- Que merda! Tô me sentindo culpada! Caraca, você perdeu o celular por conta do meu macarrão com shitake! E eu ainda bati boca com o cara!

-Esquenta não, amiga. Tô bem.

- Putz, isso vai virar post no seu blog... "Como trocar um celular por 100g de shitake"!

______________________________________

Ju, "apesar de" - como diria Clarice Lispector-, o shitake tava muito bom, o vinho uma maravilha, o brownie delicioso e o brigadeiro de cumbuca espetacular. Obrigada pelo bom papo até às 3 da manhã e pelo abrigo.=D

5 de jun. de 2010

4- Próximos passos em 6 fragmentos.

Postado por Priscila |

[Ilustração: René Magritte, l'evidence eternelle]

- Oi, florzinha! |Smack!|
- Oi, amiga!|Smack!| Fez boa viagem?
- Ai, fiz! Mas tô casada... Que tal uma sopinha?
- Boa pedida!

|tic, tac, tic, tac|

- Moço, tem sopa de ervilha?
- Só caldinho de feijão.
- Vai caldinho então!
- Dois caldinhos de feijão, por favor!

- E aí, amiga, como anda a vida?
- Bem, florzinha! Muito trabalho.
- Et comment ça va ton Français?
- Buf, comme ci, comme ça...
- Mais ce n'est pas mal du tout!
- C'est vrai..

- Caldinho de feijão?
- É nosso!

- E os gatos?
- Preciso de dicas!
- Dicas? Novo personagem amoroso na sua narrativa?
- Oui!
- Conheço?
- Non.
- Tá em que estágio?
- No estágio:

"-Salut!
- Salut.
- Comment ça va?
- Bien. E toi?
- Ça va.

|Tic, tac|

- Le temps est bizarre aujourd'hui, non?
- No. Il fait beau.

|POW!|

En Off: Tais-toi,[........ .......]!Tais-toi!
"


- D'accord, écoute-moi!
- Ok, tô "écouteando"!

[PASSO #1: Toque]
- Massageie o ego masculino. Quando uma mulher faz questão de tocar um homem durante uma conversa, eles se sentem atraentes e tal. Então, toque no braço dele quando ele mandar algum comentário engraçado, cumprimente-o com um beijo.

[Passo #2: Soquinho ou Tapinha]
- Esse é a evolução do toque. Poucos sinais indicam uma atração tão óbvia quanto o famoso soquinho/tapinha que a mulher dá no homem quando ele fala alguma bobeira. Isso demonstra que já há entre vocês descontração, intimidade e também aquela fagulha. Entendeu?

- Entendi!

[Passo #3: Cabelos]
- Mexa no cabelo quando estiver conversando com ele. Sutilmente. Nem todos percebem essa, mas não deixa de ser um ótimo sinal.

- Será que é por isso que ele passa tanto a mão no cabelo?

- Hum, bom saber! Isso já pode ser um bom sinal! Repare mais!

[Passo #4: Olhar]
- Mantenha o seu olhar conectado ao dele 1 segundo além do necessário. Isso cria uma intensidade absurda. É como se os dois estivessem pegando fogo. Não há homem que não entenda o significado de um olhar intenso.

- Hum, tô começando a gostar disso... Já leu o meu post em que eu falo do olhar dele?

- Não.

- É um post antes dessa nossa conversa.

- Vou dar uma lida. Continuando...

[Passo #5: roupas]
- Mantenha o visual básico e descontraido do tipo "final de semana". Pelo incrível que pareça eles gostam desse estilo. Se possível, acrescente alguma blusa com um decote não muito agressivo. Combinação matadora: top branco, jeans desbotado, cabelo solto e tênis. Dá um ar de mulher esportiva, dinâmica, mas poderosa.

- Ok, já vou estudar as combinações do meu guarda roupa!

[Passo #6: As "deixas"]
- Comente de programas que te interessam, do último filme que você viu, da peça de teatro que está em cartaz, do novo bar que seus amigos te indicaram. Não precisa convidar o cara, é só dar as deixas. Homem gosta de se sentir conquistador, então deixe a iniciativa com ele.

- Céus, essa é a parte mais difícil!

- Ah, que isso! Deixa o cara se esforçar um pouco também! Duvido que depois disso tudo ele não passe a te olhar com outros olhos. A janela entreaberta é sempre mais interessante do que a porta escancarada. Deixa. Se ele for inteligente ele vai saber o que fazer. E se não for, amiga, você merece coisa melhor!

4 de jun. de 2010

3.Sobre a origem de [***** ****]

Postado por Priscila |

[ilustração: René Magritte, le fils de l'homme]

Eu não sei nada sobre a origem de [***** ****]. Não sei o nome do pai, nem da mãe. E por não saber,ou por não lembrar, tudo fica mais fácil.

[***** ****]tem a minha idade. Aliás, quase. Ele é 28 dias mais velho que eu. Fora isso, [***** ****] tem pé de canoa e mãos bonitas. Bem bonitas. Aparentemente não roe unhas. Nada mal para o começo da minha observação participativa com escrita ficcional...

Queria saber o que ele desejava ser quando crescesse. Queria saber que tipo de cueca ele usa. Queria saber pra que time ele torce e que comida ele gosta de comer. Eu não sei uma porção de coisas, mas sei que ele tem um perfume bom que lembra cheiro de brinquedo novo.

[***** ****] tem olhos castanhos claros que se fixam nos meus quando fala. E quando os olhos engatam, como linha de pipa, digo em cada piscada meia duzia de cantada e me divirto ao perceber que ele não entende nada. Ele não desvia o olhar, ele não reage,ele não ataca. Simplesmente continua olhando, se esforçando para não perder a linha do raciocínio.Inúmeras vezes ele passa a mão no cabelo. Charme ou nervosismo? Ainda não descobri.

Já tive vontade de ligar do nada, passar trote, chamar pra sair e ver no que dá.

Enquanto a coragem não vem, espero... Espero pelo próximo encontro chegar.

3 de jun. de 2010

2. [***** ****]: detalhes de uma "Ficção Amorosa"

Postado por Priscila |

[ilustração: René Magritte, l'invention de la vie]


Não sou fã desse negócio de pseudônimo. Chamar [***** ****] de "[***** ****]" não me parece muito legal, nem muito humano (ou estaria errada?). O fato é que não consigo encontrar um codinome melhor para esse novo personagem...

Não, ele não sabe que escrevo sobre ele. Aliás, nem desconfia. E o mais curioso é que vai continuar sem saber... [***** ****] não tem a mínima curiosidade ao meu respeito, apesar d'eu já ter conseguido um pequeno progresso. Ficção platônica? Hum, talvez sim, talvez não. Ou talvez seja só um estudo literário antropológico de observação participativa com escrita ficcional sobre alguém que - por uma razão desconhecida - mexeu com a minha curiosidade.

Isso me parece o início de uma série de histórias curtas e fictícias sobre o tal [***** ****], por isso acabei de inaugurar um novo marcador. Chamei-o de "ficção amorosa".

Não tenho o mínimo de objetivo concreto de alcançar qualquer coisa com esses textos.Só o livre pensar. Montar esse personagem será divertido... E tenho apenas três encontros para recolher o máximo de informações possíveis para isso...

Vejamos de onde eu começo... Ah, já sei: "Sobre a origem de [***** ****]". Mas isso será assunto para o próximo post!

[ilustração: René Magritte, l'oeil]

- Eu quero aquele cara!
- Hum?
- Eu quero aquele cara!
- Qual?
- Aquele parado ali embaixo, troncudinho, de camisa preta com blusão xadrez por cima. Tá usando uma sandália "franciscana" com meia e óculos.
- Ah! Aquele ali parado? Putz, eu conheço ele! Ele é o [***** ****]!
- Jura? Então é ele o famoso [***** ****]! Ele é uma graça!
- Menos amiga! Ninguém que usa sandália franciscana com meia pode ser muito normal!
- Flor, isso é detalhe pequeno perto do resto!
- Bom, isso é verdade! Ele é um fofo! Super carismático, prestativo! Você vai adorar conhecer ele!
- Me apresenta?
- Ai, amiga! Eu não sou tão íntima dele pra isso... Mas esquenta não! Ele vai na festa!
- Mas o que adianta estar na festa se eu não conheço ninguém que possa fazer a ponte?
- Ah, sei lá, puxa assunto!
- Puxar assunto? Eu chego e falo: oi,[***** ****]! Meu nome é [........ .......]e tô a fim de te conhecer! Me beija?
- Até que não seria má ideia...
- Tá doida! (suspiro) Nossa ele é uma graça! Que carinha de bom menino!
- Isso ele é!
- Ai, quero levar ele pra minha casa!
- Tenta a sorte! Tenta!
- Vou tentar! Assim que eu tiver a primeira oportunidade dou um jeito de colocá-lo perto de mim. Escreva no seu caderninho!

Mais uma de amor...

Postado por Priscila |

"E o meu coração geme, geme..."

"Amor, pede uma porção de batata frita?" ADORO Blitz!

Tô num momento Anos 80...

1 de jun. de 2010

Afogando Santo Antônio.

Postado por Priscila |

Reza a lenda que colocar Santo Antônio de cabeça para baixo num copo d'água é uma boa simpatia para conseguir namorado...



- Será que dá certo? Tem a possibilidade dele resolver o problema em 11 dias?